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terça-feira, 16 de março de 2010




Quando comecei a ser gente decidi que seria bailarina. Era apaixonada por sapatilhas de pontas e fatos com tutus esvoaçantes. Mas o meu pai dizia que estudar no conservatório não dava futuro a ninguém e apesar das aulas de ballet acabei por guardar o sonho na gaveta. Poucos anos mais tarde decidi ser médica pediatra. Como é que uma criança de 10 anos sabe que quer ser pediatra? O sonho durou 8 anos. Até que os exames nacionais decidiram que eu seria enfermeira. E fui. 4 anos de curso mais 6 de exercício profissional. O cansaço próprio da profissão, o desejo de uma melhor remuneração levaram-me a onde estou agora( consultora de vendas de uma multinacional) Mas aquilo que eu queria mesmo era ser jornalista. E foi por isso que fui fazendo o curso enquanto trabalhava como enfermeira. Às vezes pergunto-me se decidimos o que queremos ser ou se a vida vai escolhendo por nós. Se os meus pais fossem defensores das artes, hoje seria bailarina. Se os meus pais me tivessem mandado estudar para Espanha, teria sido médica. Tantos ses... Pergunto-me o que vem a seguir... sim, tenho a certeza de que o meu actual trabalho é apenas mais uma parte de um caminho que tenho que percorrer. Será que um dia ainda vou ser jornalista? Ou as condicionantes da vida vão mais uma vez afastar-me de um sonho?


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. "


Fernando Pessoa
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2 comentários

Poetic Girl disse...

São estes ses da vida que nos fazem questionar tudo não é? Mas quero crer que nunca é tarde para realizarmos o que queremos, pode exigir mais ou menos esforço, mas no fim compensa. bjs

She disse...

Ao ler este post, identifiquei-me com ele. Às vezes também dou por mim a pensar se fiz as escolhas certas e se essas escolhas acontecem por acaso... Também gostava de ser tantas outras coisas, poder estar onde não estou e se calhar por isso o teatro me diz tanto. Não havia melhor finalização possível para este post do que Fernando Pessoa "Sentir tudo de todas as maneiras" - Álvaro de Campos

Ana Filipa Castro

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