Feira de Vaidades

Et voilá! Começou a silly season. Sim, bem sei que o Verão ( ou espécie de estação em que já não há calor a sério nem noites quentes como antigamente), já tem quase um mês e meio, mas hoje sim o belo do tuga entra verdadeiramente de férias e ruma ao Algarve. É vê-los com os carros apinhadinhos, nas filas para os restaurantes, nas filas do multibanco, queimadinhos como se quer, de chinela, Havaiana ou os pirosos crocs, como queiram, todos felizes e contentes. Burocracia nem vê-la, o país está a banhos, e nem se atreva a ir a uma repartição de finanças, porque o senhor y que assina o papel x está óbviamente a gozar as suas suadas e merecidinhas vacances.

À beira-mar observam-se cenários do mais surreal que há. Barrigas gordas e anafadas passeiam a bela da cueca justa deixando quase a descoberto a protuberância que anda o ano inteiro dentro da calça de ganga... o senhor engenheiro, sim o do fato e gravata sempre muito mal disposto e carrancudo faz de cavalinho à pequena Inês que regozija maravilhada, com as aptidões do seu querido papá para imitar vozes de animais. Mas isto não fica por aqui... a bela da dona de casa desesperada saca da mala térmica, senta os rebentos em fila e obriga-os a comer a sande de fiambre que meticulosamente preparou as 6 h da matina. Berra com eles como se a praia inteira necessitasse de saber que o seu João Miguel entra para a escola já este ano, e que por isso estão no parque de campismo para poupar um trocos para os livros. Ao final do dia estão todos na esplanada. Uns a beber imperiais e a comer caracóis, outros champanhe francês e camarão. Mas sim estão todos lá...

E Lisboa parece finalmente respirar... está impossivelmente sem trânsito, com imensos sítios para estacionar, com um baixo índice de monóxido de carbono... até o sol parece brilhar de outro modo. Adoro trabalhar em Agosto, observar as pessoas que também ficaram mas deixaram de correr... gosto de olhar para o Tejo num final de tarde, em que uma ligeira brisa toca os rostos dos poucos presentes e os brinda com a lua cheia. E só por isto gostava que Agosto se multiplicasse por três, que o Algarve continuasse cheio e que Lisboa possa andar leve e airosa.